quarta-feira, 1 de junho de 2011

Era amor


“ E , quanto mais tempo passava, mais Rodrigo compreendia ser-lhe impossível viver sem Bibiana. O que a princípio fora apenas desejo carnal agora era também um pouco ternura: era amor. E o cap. Cambará inquietava-se por isso. Porque sempre lhe parecera que o único amor digno dum homem era esse que apenas pede cama. O amor de fazer ou cantar versos e mandar flores, esse amor de doer no peito, de dar saudade era amor de homem fraco. Ele cantava versos que falavam em tiranas, saudade e mágoa, só por brincadeira, sem sentir de verdade as coisas que dizia. No entanto, agora estava enfeitiçado por Bibiana Terra. E, em fins daquele dezembro quente e parado, Rodrigo Cambará pela primeira vez compreendeu o profundo sentido dum ditado popular: “Quem anda cego de amor não sabe se é noite ou se é dia”.


Erico Verissimo
em 'Um Certo Capitão Rodrigo '

2 comentários:

Lídia Borges disse...

O amor sempre cantado em prosa e em verso. É um sentimento mágico... enquanto dura!

L.B.

Guilherme Antunes disse...

Deliciosa verdade em história que ecoa em mim como a minha própria... :)