sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?

Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida,
se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos - oh sina -
para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as
falas de cada região do Brasil.

Cadê os lingüistas deste país? Sinto falta de um tratado geral
das sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais.Como é que
as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência
e a sonoridade das palavras?

É um absurdo. Existem livros sobre tudo; não tem (ou não conheço)
um sobre o falar ingênuo deste povo doce. Escritores, ô de casa,
cadê vocês? Escrevam sobre isto, se já escreveram me mandem, que
espero ansioso. Um simples" mas" é uma coisa no Rio Grande do Sul. É
tudo menos um "mas" nordestino, por exemplo. O sotaque das mineiras
deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom
tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar,
sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta
avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho,
me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz
de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.
Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem,
sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode
parar, dizem: "pó parar". Não dizem: onde eu estou?, dizem:
"ôncôtô?"). Parece que as palavras, para os mineiros, são como
aqueles chatos que pedem carona. Quando você percebe a roubada,
prefere deixá-los no caminho.

Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual
atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um
juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no
couro - metaforicamente falando, claro - ele é bom de serviço. Faz
sentido...
Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas
mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá
boa?" Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela
tá boa, é como perguntar a um peixe se ele sabe nadar.
Desnecessário.

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos
significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem
com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal
de bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí,
vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um
"vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca


Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas
prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas
regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em
Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:
- Eu preciso de ir.Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo
problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação
é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.
Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer
dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:

- Ah, fui lá comprar umas coisas...

- Que' s coisa? - ela retrucará.

Acreditam? O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Até o tchau. em Minas. é personalizado. Ninguém diz tchau pura e
simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês". É útil
deixar claro o destinatário do tchau. O tchau, minha filha, é prôcê,
não é pra outra entendeu?

por Felipe Peixoto Braga Netto
 Hahaha é ...muito bom  o texto.
A  D O R E  I!

5 comentários:

! Marcelo Cândido ! disse...

Será que ele se separou de uma mineira com sotaque arretado?

hehe
!!!

Abraço
.

Júlio Castellain disse...

...
Também gostei.
Bj.
...

Rafaela Alves. disse...

rsrs a gente aqui fala super certo :p
não dá pra falar tchau quando tem muita gente, tchauprocês indica que o tchau é pra todo mundo =D rsrs

M.Maia disse...

creio eu que cada lugar tem a sua cultura , sim eu sou mineira , e nem é esse monstro todo que parece ser, o nosso sotaque é apenas o nosso jeito de sermos e muita coisa não é bem ao pé da letra , HAHA' (:

VIBRASA disse...

Menina , te achei por um acaso.
Já gostei do texto sem ao menos ter lido-o. Adorei muuuinto!
Posso te acompanhar em seus olhares? Bjs minha querida.
wagner